sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O coronel e o sanfoneiro

O termo coronel, além da patente militar, designa também aquele fazendeiro poderoso, geralmente do interior do nordeste, cercado de capangas, que fazia valer as suas vontades, munido, principalmente, do uso da força.
Em Serra Talhada, município do sertão de Pernambuco, na primeira metade do século XX, tinha um desses folclóricos coronéis.
Além de rico proprietário de terras, era também o juiz de paz da cidade e o principal eleitor do prefeito e dos vereadores daquele município (via "voto de cabresto", é claro).
Todos na cidade, sem exceção, o respeitavam.
Jamais era contrariado.
Conta a sabedoria popular, que em uma noite, já repousado na casa da sua grande fazenda, ouviu ao longe uma música que o incomodou.
Imaginem só, um coronel daquela envergadura, jamais poderia ter o seu sono atrapalhado por um forró qualquer.
Ainda mais que ele não se lembrava de ter dado autorização para nenhuma fazenda vizinha fazer festa!
Então, ele se dirige até a cozinha e chama um de seus capangas:
- "Severino! Vá até o vizinho e fure o fole dessa sanfona, cabra! Não quero saber desse arrasta-pé!"
E foi Severino, bem rapidamente, acompanhado da sua Schimdt 45.
Passou-se mais de meia hora, a música não cessou e nada do Severino voltar.
O coronel mais irritado ainda, chama um segundo jagunço:
- "Chico! Eu quero esse arrasta-pé encerrado, agora! Vá lá furar o fole dessa sanfona! Rasgue o couro da zabumba e diga que fui eu quem mandou! E volte logo, seu abestado!
O rapaz saiu mais rápido ainda que o anterior, armado até os dentes, cavalgando em disparada em direção ao local que vinha o som.
Mais meia hora e nada do forrozinho acabar. E nem Chico voltar.
Aí o coronel se aborreceu de verdade. Avisou a mulher que ele mesmo acabaria com aquela festa ou então não era um "cabra macho", que não honraria usar as calças que vestia.
Chamou mais três jagunços e foi, decidido, a "furar o fole daquela sanfona".
Duas horas depois, a mulher apreensiva, pois nada da música acabar, pelo contrário, parece que a festa tinha se animado mais, ela vai até o alpendre da casa e vê o seu marido, o coronel, voltando cabisbaixo, mais os cinco capangas, e pergunta, surpresa:
- "Oxe, marido! Você não disse que ia acabar com aquela festa?"
E o coronel, resignado:
- "Pois então, minha santinha! E não é que a festa tava boa, com uns músicos bem afinados, principalmente o sanfoneiro, que era justamente o compadre Lampião..."

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