sexta-feira, 14 de maio de 2010

Técnico de futebol

Na semana que passou, foi divulgada a lista de convocados para jogar a Copa do Mundo de futebol, na África do Sul.
Como sempre, causou mais descontentamentos do que elogios.
Uma interminável sabatina, foi feita, para que o treinador pudesse justificar algumas escolhas.
Jogadores bem habilidosos e com forte apelo popular, ficaram de fora dessa lista.
Eu mesmo achei que o "professor Dunga" (ainda hoje eu não entendo porque todos os treinadores são chamados de professor se, a maioria deles, nem tem essa formação) poderia ter sido mais ousado em um ou dois nomes.
Mas, como vou torcer de qualquer forma pelo escrete canarinho, me importei pouco pela ausência dos jogadores X ou Y.
Contudo, não invejo, neste momento, a posição do nosso caríssimo professor em questão (o Dunga).
Foram tantas críticas e desaforos (alguns até de caráter pessoal) que já coloquei essa profissão (a de treinador da seleção brasileira) no rol de ocupações que eu não jamais gostaria de exercer, como de maquiador de cadáveres, pescador de caranguejos no Mar do Alasca, carvoeiro, goleiro do Corínthians e taquígrafo.
Prefiro continuar no papel de torcedor e corneteiro.
Inclusive, presenciei "in loco" várias manifestações pouco amistosas da fanática torcida do meu time interiorano contra alguns treinadores que já dirigiram a "Veterana da Alta Mogiana".
Uma dessas vítimas era o Barbosinha (nome fictício).
Ex-jogador do clube, filho da terra e um quebra galhos eterno, o nosso "professor/treinador" sempre era chamado depois da saída de algum técnico.
Era, de fato, um "tapa buracos".
Nunca entendi o porquê do Barbosinha sempre aceitar esses pedidos para assumir o time após a saída de algum treinador, pois geralmente isso acontecia porque a equipe andava mal das pernas e mais perdia do que ganhava.
Óbvio que muita coisa não mudava, apenas pelo fato de aparecer um comandante "novo" na quase naufragada embarcação.
Mas, o importante é que o Barbosinha aceitava...
E nos matava de raiva!
Num desses episódios com o time perdendo em casa e jogando muito mal, um sujeito de quase dois metros e mais de cem quilos, colou no alambrado, atrás do banco de reservas e não parava de chamar o "nosso professor" de burro.
Ele saía do banco de reservas para passar alguma instrução para os jogadores e o cara chamava o técnico de burro.
Então, o Barbosinha resolveu ousar e colocou para aquecer um centroavante "prata da casa", que como jogador de futebol era um excelente sapateiro (inclusive essa era a sua profissão de segunda a sexta) e causou mais irritação ainda do seu ferrenho crítico, coladinho na grade do alambrado com mais um copo de cerveja na mão.
Só para ilustrar, era só o Tetê (nome real) começar a aquecer, que a torcida já gritava: "Tira o Tetê, tira o Tetê!".
Foi uma escolha infeliz, mas como ele era o comandante, entrou o nosso contestado centroavante reserva.
Mais uma vez, o gordo atrás do banco de reservas não perdoou:
- "Burro, como você é burro, cara!"
Mas, como o futebol é imprevisível, sem nenhuma lógica, logo no primeiro lance, a bola sobra limpinha para o Tetê e, de canela, ele empata a partida.
Comoção geral, o treinador sorri e olha de maneira fulminante para o seu tão ferrenho crítico, movimentando a cabeça de maneira inquisidora, quase que perguntando: "e agora".
Sem pestanejar, o cri-cri do alambrado, ainda pulando de alegria, emenda:
- "Pois é, Barbosinha, você é um burro de sorte..."