terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tia Neusinha

Tia Neusinha era muito sentimental.
Desde criança tinha problemas com o seu alto grau de ciúme em relação às outras meninas da casa.
Adolescente, se achava inferiorizada, devido ao seu corpo que não se desenvolvia como o das outras meninas da mesma idade.
Mesmo assim, com uma auto estima mais baixa que o normal, capturou o coração do Chico de Maria Alva, um rapaz trabalhador, que morava na área rural da vila de Capivari da Mata.
Casaram-se e foram morar em uma bela casinha construída nas terras do seu sogro.
Como ela era filha de pequenos agricultores que tiveram que se mudar para a cidade, com as crianças ainda pequenas, não estranhou em nada, aquela nova rotina.
Mas, tia Neusinha, mesmo casada com um bom homem, levou para a roça, as suas crises de inferioridade.
Com o passar do tempo, com o isolamento do local, a distância da família e a não formação de uma prole, ela foi caindo em depressão profunda.
Mesmo tio Chico fazendo de tudo para agradá-la, não conseguia uma boa resposta.
Inclusive, tia Neusinha, passou a falar constantemente que a vida não valia a pena.
Isso preocupou e entristeceu profundamente tio Chico.
Ele procurava não a deixar sozinha. Mesmo quando tinha que ir para a cidade, colocava alguém tomando conta dela.
Até que, em um certo dia, já cansado daquela situação, de tantas queixas e reclamações, tio Chico foi até o fogão a lenha, onde tia Neusinha mexia com o torrador de café (uma bola enorme que tinha que ser virada constantemente sobre as brasas) e discutiu ferrenhamente com ela, exigindo uma mudança de postura, uma reação.
Pela enésima vez, ele ouviu dela que a vida não prestava e que ela queria se matar.
Claro que, pela quantidade de vezes que ele já tinha ouvido falar na palavra suicídio, nem deu bola para tal ameaça.
Tia Neusinha, então, descansa o torrador de café sobre a mesa e sai correndo em direção à mata, dizendo que vai se jogar no ribeirão.
Tio Chico não acredita e fica impassível na varanda, por alguns minutos.
Mas, como a preocupação aumenta, ele sai em direção ao local que ela disse que se jogaria e a encontra paradinha, sentada em uma pedra na beira do rio.
Ele, ironicamente, lhe pergunta o porquê de não ter se jogado no rio e ela, com um jeitinho matreiro, cheia de razão lhe explica:
- "Você não viu que eu acabei de torrar café!"
Muito prevenida, a minha tia Neusinha. De fato, cair na água com o corpo quente, poderia lhe fazer mal, lhe causar uma constipação...

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