quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Turco Salim

Muitas cidades do interior paulista receberam grupos significativos de imigrantes sírios e libaneses.
Na minha, não foi diferente.
Só que, ao chegar no Brasil, no começo do século vinte, esses grupos árabes possuíam passaporte turco, pois os seus países pertenciam ao grande império Otomano.
Então, a população sempre usava o gentílico turco, para se referir a eles.
Apesar de não gostarem, acabaram se acostumando (na realidade, eu nunca ouvi falar de um turco mesmo, nascido na Turquia, aqui na minha cidade).
Cheguei a conviver um pouco com algumas dessas famílias, pois estudava em uma escola que tinha alguns filhos e netos desses imigrantes.
O que mais me chamava a atenção era o turco Salim, que desde que tinha chegado ao Brasil, tinha feito de tudo um pouco. Já mascateou, teve atacado de cereais, máquina de limpar arroz, loja de tecidos e no fim, vivia de alguns imóveis que alugava em um bairro antigo aqui da cidade.
Negociante hábil, com fala mole, carregada de um forte e característico sotaque, o turco Salim impressionava a todos com a facilidade de obter vantagens em tudo que comprava e vendia.
Uma certa vez, ao acompanhá-lo à cidade de São Paulo, onde iria inspecionar a chegada de uma carga de tecidos que desembarcara em Santos e estava estocada no Brás, tive mais uma prova dessa sua lábia, desse seu jeito peculiar de fechar um negócio.
Na Rodovia Anhanguera, um pouco antes de Jundiaí, existiam muitas banquinhas que vendiam uvas, em caixotes de madeira.
Passando por diversas delas e com uma vontade imensa de aplacar o seu desejo por aquela fruta, resolveu parar naquela que ele achou ser a maior, a que possuía a melhor estrutura.
Descemos do caminhãozinho e ele se dirigiu ao dono da barraquinha.
Perguntou o preço da caixa grande de uvas.
O homem respondeu que custava dez cruzeiros.
O turco Salim achou interessante o preço e perguntou quanto ele faria se ele comprasse duzentas caixas.
Ao ver o caminhão parado o homem se animou e disse que daria um abatimento de trinta por cento.
O turco sem modificar a sua expressão, disse que tinha gostado do desconto, pegou uma caixa, deu sete cruzeiros ao vendedor e foi indo em direção ao veículo.
O dono da banca, logo chamou a sua atenção:
- "Mas, o senhor não disse que levaria duzentas caixas?"
E Salim, sem pestanejar:
- "Isso, mas antes eu 'vai' levar uma, só para 'exberimentar'..."

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