quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Pé de pato, bangalô, três vezes...

Dona Elvira era extremamente supersticiosa.
Pé de coelho, trevo de quatro folhas, olhinho grego, mãozinha com figa, entre outras coisas, sempre eram companhias confiáveis.
Ouvir um piado de coruja no telhado ou sonhar que estava arrancando dentes, então, nem pensar, já lhe causava arrepios, pois era, com certeza, a premonição de morte de uma pessoa próxima.
E, justamente o que mais lhe impressionava, aconteceu naquela noite de doze de agosto, véspera de uma sexta-feira.
Acordou com um "pesadelo horrível": ela estava no dentista extraindo o canino.
E logo após ouviu uma suindara que passeava pelas vizinhanças, piar bem sobre a janela do seu quarto.
Ao amanhecer, preveniu a todos na casa, impedindo os netos de ir a escola, os filhos de pegar lotação para chegar ao trabalho (o Antenor gastou o que não tinha para ir de Itaquera a Lapa, de táxi) e até a cadelinha de estimação não foi fazer o seu costumeiro passeio matinal.
Só não se sentiu cem por cento segura, pois lembrou-se do irmão caçula que estava nos Estados Unidos, trabalhando clandestinamente no perigoso ofício de pintura de estruturas metálicas de pontes, na Califórnia.
Tentou contato o dia inteiro para alertá-lo dos "riscos" que ele corria, mas não conseguia sequer um sinal do celular.
A sua aflição aumentou, as orações intensificaram-se e o final da sexta-feira, treze, se aproximou.
De tão cansada, adormeceu levemente na poltrona do seu quarto, ao lado da extensão telefônica.
Acordou, subitamente, próximo da meia noite, com o toque estridente do telefone, com o seu volume maior que o habitual (que ela mesma tinha feito questão de aumentar), coração palpitante e mão formigando.
Mas, a sua nora que estava na sala e, também muito aflita, atende rapidamente, pois não queria que a sogra se assustasse, ouve aliviada a voz vinda dos Estados Unidos, do querido irmão de Dona Elvira desculpando-se pelas chamadas não atendidas, devido a diferença de fuso horário e, tranquilizando a todos, disse que estava bem e que passava pelo melhor momento da sua vida, já que tinha conseguido o "green card" e não era mais um imigrante ilegal.
A moça sobe rapidamente as escadas, vai até o quarto da sogra, para mostrar a grande bobagem de acreditar em superstições tolas (já que ela não perdera nenhum parente próximo) e antes de dar a "boa nova" , ela encontra Dona Elvira morta, estatelada na poltrona, provavelmente vítima de um fulminate ataque cardíaco...

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