terça-feira, 16 de março de 2010

Azar no jogo, sorte no amor...

O Antenor era um sujeito pacato.
Muito honesto, trabalhador e apaixonadíssimo pela Dorinha.
Namoraram por muito tempo e parecia que eram feitos um para o outro.
Todas as vontades da namoradinha eram satisfeitas pelo bom coração do Antenor.
Mesmo morando distantes, em uma cidade tão grande como São Paulo, se viam praticamente todos os dias.
Namoravam no Ibirapuera, na Paulista, nos cinemas do Shopping Frei Caneca, nos jardins do Vale do Anhangabaú, entre tantos outros pontos bem conhecidos da "terra da garoa".
Também frequentavam alguns restaurantes e bares da Vila Madalena.
O nosso bom e apaixonado protagonista fazia questão de proporcionar boa diversão à Dorinha.
Só não era perfeito, pois a família dele não tinha ido muito com a cara da sua nova namoradinha.
Mas, era natural, pois Antenor além de ser o único homem entre tantas mulheres (cinco irmãs e mãe viúva), também era temporão, com uma grande diferença de idade com a caçula das irmãs.
Ele entendia esse ciúme que rolava entre a sua família e Dorinha.
Mas, não se aborrecia, mesmo quando a sua já velhinha mãe, reforçava que ele merecia uma pessoa melhor (ela vivia desconfiando das boas intenções da sua namorada).
Esse paraíso começou a se modificar, quando o rapaz foi conhecer a família da moça.
Já ficou um pouco preocupado ao chegar no distante bairro dela e ver a desenvoltura que ela tinha ao circular entre os rapazes da sua rua.
Ele ficou até um pouco constrangido com os olhares de algumas pessoas, que seguravam sorrisos ao vê-los de mãos dadas.
Inclusive, no local ela era conhecida como Dadá.
Estranho, não!
Se ainda fosse Dodó, já que a sílaba inicial do seu nome era essa...
Ao chegar na casa dela, conheceu os seus parentes mais próximos que trataram o Antenor como um rei, como um novo membro da família.
Ele já se sentia tão íntimo, que até os problemas financeiros da casa, lhe eram contados.
Prometeu ajudar a todos, com o seu minguado salário de funcionário público e como avalista de alguns empréstimos que seriam feitos.
Ficaram noivos naquele mesmo dia e se casaram com uma rapidez assustadora, sem o consentimento da contrariada família do moço.
Foram morar na casa dela, com o nosso bom Antenor fazendo qusetão de comprar tudo novo, de tv de plasma a vídeo game de última geração para o seu cunhadinho de oito anos.
Estava tão endividado que não conseguia mais nenhum crédito para novas aquisições que poderiam agradar ainda mais a família da sua esposa.
Quando todos perceberam que ele já não conseguia mais se manter, devido a tantas dívidas, o colocaram contra a parede.
Afinal de contas, eles estavam morando "de favor" naquela casa e Antenor deveria contribuir ainda mais para o orçamento daquele desiquilibrado lar.
Aí, o bom e calmo rapaz estourou.
Como ele deveria ser mais participativo, se todas as dívidas por ele contraídas tinham sido em prol daquela mal agradecida família?
Subiu nas tamancas e disse que iria para a casa de seus pais, com a sua mulher.
Mas, para a sua surpresa, a Dorinha fez carinha de desdém e disse que não sairia da casa da mãe, pois afinal de contas não era mulher para morar de favor com a sogra.
Juntou as roupas do Antenor e lhe desejou boa viagem.
O rapaz quis voltar atrás, mas foi quase enxotado daquele lugar.
Muito arrependido, foi caminhando devagarzinho até o ponto da lotação, quando uma vizinha chegou ao seu encontro e lhe contou algo que o deixou ainda mais estarrecido: ela disse que todo o bairro conhecia as muitas histórias de infidelidade da sua esposa, muitas delas, inclusive, ainda quando eram namorados.
Antenor quase enlouqueceu!
Mudou a direção e saiu caminhando aleatoriamente, sem rumo.
Parou em frente a uma banca de anotação de "jogo de bicho" e raciocinou: "dizem que quem tem azar no amor, tem sorte no jogo"...
Não pensou duas vezes.
Pegou o que ainda lhe restava nos bolsos e, na esperança de reaver parte do que tinha perdido, jogou tudo na vaca, na cabeça.
No final da tarde foi conferir o resultado da aposta, animadíssimo, e para a sua surpresa...
Deu burro!