terça-feira, 12 de abril de 2011

Motorista do interior

Quem já morou ou já dirigiu automóveis no interior do nosso estado, sabe que a direção empregada é bem diferente daquela aqui da capital.
Como o trânsito aqui flui de maneira mais agressiva, com muito mais carros do que em qualquer outra cidade do Brasil, acaba gerando um acordo tácito entre a maioria dos motoristas.
Por incrível que pareça o uso da seta é mais comum aqui do que em outros lugares, existem motoristas que cedem um pouco do espaço que poderia ser ocupado pelo seu carro para que o outro condutor consiga sair de uma vaga de rua ou da garagem, etc.
No interior não tem isso não!
Muitos nem se lembram de ligar a seta, odeiam diminuir a velocidade para outros passarem (inclusive para pedestres) e acham que possuir um carro, os diferencia daqueles que andam pelas calçadas.
Por isso, quando ando a pé pela minha cidade, redobro a atenção, ao atravessar ruas e avenidas.
Aqui, na metrópole, também me cuido, mas sei que muitos vão me permitir atravessar a rua entre o seu carro e o da frente, sem acelerar de maneira ruidosa.
Tanto que, ao vir com o meu pai para cá, fui atravessar um rua movimentada de Guarulhos entre dois carros (o de trás diminuiu para que pudesse passar).
Vi que o meu pai titubeou e não quis fazer o mesmo.
Brinquei com ele, depois de esperar algum tempo para chegar na outra calçada:
- "Poxa, pai, pode ficar tranquilo, porque os motoristas de São Paulo diminuem um pouco para que os pedestres possam atravessar. Da próxima vez, pode confiar!!!!"
E ele:
- "Eu não! E se o motorista, justo daquele carro, for do interior?"
Pois é, depois desta constatação, eu também nunca mais confiei...

Fim de viagem

Tem eventos que mesmo bem planejados acabam tornando-se entediantes no seu final.
Arrastam-se, morosamente, até a dispersão dos convidados.
Quem já viajou com apenas uma única companhia, por vários dias ou semanas seguidas, sabe do que eu vou descrever, pois já deve ter vivido situação semelhante.
No começo é só alegria, conversa-se sobre tudo, concorda-se em relação à maioria dos pontos de vista, tacitamente se entendem a respeito do que ver e do que fazer.
Depois de alguns dias, a situação vai mudando, mas para o bem da viagem, continua-se relevando alguns deslizes e mancadas.
Mas, no final da jornada, tudo muda, parece que o mundo conspira contra o bem da dupla, qualquer comentário vira motivo para briga, um vai para o leste, enquanto o outro prefere o oeste (mesmo que não tenha nada para se ver, lá) e não há mais sinal de entendimento.
Em viagens mais curtas também pode ocorrer algo parecido, principalmente se percorrer distâncias longas em curto espaço de tempo.
O Edgard passou por essa experiência neste final de semana.
Após organizar uma festa de confraternização no sábado, foi "voando" para casa, tomar um banho e colocar o terno dentro do carro para seguir viagem para a casa dos seus sogros onde seria padrinho de batismo da sobrinha da sua namorada, em uma cidade distante 600km da capital.
Antes de pegar a estrada, passou na casa da amada e seguiu viagem, rodando por mais de 6 horas até chegar ao destino final...
Solange, a namorada, não parou de falar um minuto sequer, fazendo com que o motorista não sentisse sono e nem quisesse parar para descansar.
Batizado concluído, almoço servido (e comido), fez que os dois pegassem novamente a estrada em direção à capital.
Novamente muita conversa, brincadeiras leves e uma grande descontração.
Até que no quarto final de mesma, o assunto acabou e só o rádio quebrava o silêncio e a monotonia.
Para voltar a papear, Edgard pede com jeitinho:
- "Fale alguma coisa, amor!"
E ela:
- "Lembra-se do pai da Vanessinha, minha vizinha de portão?"
- "Sim, aquele que era caminhoneiro, desde adolescente!"
- "Isso mesmo, Edgard!"
E ele com cara de desentendido, sem saber onde a namorada queria chegar, inquiri:
- "E daí, o que tem ele?"
- "Ué, daí que ele vivia na estrada...", arremata ela com a carinha mais séria do mundo.
Pois é, haja conversa para tanto asfalto...