quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O passarinho

Quando criança era comum ver pessoas que criavam passarinhos em gaiola.
Sei que isso é maldade, mas sequer pensávamos nisso, naquela época.
Inclusive eram comuns lojas que vendiam tudo o que era necessário para uma boa criação, desde gaiolas, arapucas (para capturar os pobres bichinhos), todo tipo de ração e grãos (a dieta variava de acordo com a ave) e até mesmo a venda das próprias aves.
Esse tipo de comércio se espalhava por toda a cidade e era abastecido pela molecada que vendia e comprava os bichinhos.
Meu pai mesmo, tinha um pássaro preto, criado na gaiola desde filhote, que arrepiava todos os pelos da cabeça, quando alguém chegava perto e se oferecia "para catar piolho..."
Hoje, ele abomina ver alguma ave presa numa gaiola, inclusive proíbe qualquer pessoa de capturar passarinhos na sua chácara.
Mas, voltando ao que eu estava comentando, na minha infância éramos bem politicamente incorretos e o local que mais me fascinava era a loja de venda de passarinhos.
Na minha rua tinha o comércio do seu Juquinha, quase em frente à minha casa.
Ele se orgulhava de possuir os melhores canarinhos da região.
Tratava dos bichinhos com o maior cuidado, sendo várias vezes finalista de concursos de canto e beleza dessas aves.
Se alguém tivesse algum exemplar com um belo trinado, era só procurar o seu Juquinha e oferecer um preço razoável, que ele comprava.
Os melhores e mais afinados, ele sequer vendia.
Sabedor disso, um tio de meu pai, levou o seu canário para vender ao procurado comerciante.
Seu Juquinha ao ouvir a ave cantar ficou impressionado.
Que afinação, que peito, possuía aquele passarinho.
Ficou encantado e quis arrematar, na hora, com gaiola e tudo.
Mas, ao observar mais um pouquinho a ave, ele percebeu que ela tinha uma perninha bem mais curtinha que a outra.
E, para obter alguma vantagem, disse ao tio de meu pai:
- "Só dou metade, pois o canarinho é manco!"
Mas, atentando-se ao óbvio, meu parente logo arrematou:
- "Mas, o senhor quer o canarinho para cantar ou para jogar futebol?"
Não houve negócio e, felizmente, essa minha fase de apreciar canto de passarinho na gaiola, passou logo.
Hoje, prefiro ouvi-los na natureza...

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