terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Jogo de xadrez

A expressão "jogo de xadrez" é bem conhecida do público em geral.
Quando eu a uso, quero mostrar uma situação complicada, com muito estudo para se chegar a uma determinada conclusão.
Também gosto de jogar xadrez.
Faço isso desde pequeno, influenciado por um amigo de infância, filho de um libanês que era dono de uma livraria na minha cidade.
Além dele me ensinar a jogar, também me mostrava livretos com partidas e indecifráveis quebra cabeças sobre o jogo de tabuleiro.
Eu era o seu sparring favorito, mas a persistência me fez evoluir até conseguir vencer o meu mestre em algumas partidas.
Com ele me inscrevi em campeonatos colegiais, chegando até mesmo a ser campeão em equipes, no ano que eu cursei a minha oitava série.
Cresci mais ainda e continuei jogando, me tornando sparring de outros amigos.
No começo da década de noventa, já em Guarulhos, me enturmei com um pessoal que gostava do "bom viver" e também tinha o xadrez como boa opção de desafio.
Eu frequentava muito um bar, no centro da cidade, chamado Taverna, onde reuniam-se os pseudo intelectuais do município, a galera descoladinha, os neo hippies e militantes da esquerda guarulhense.
Em algumas mesas, com um pouco mais de iluminação e mais afastadas da muvuca do bar, eram disponibilizados alguns tabuleiros de xadrez.
Bons papos e bons jogos.
Mas, não pensem que esse ambiente informal trazia alguma informalidade para o jogo.
Pelo contrário, a introspecção e o silêncio próximo a elas era regra inquebrável.
Quase tacitamente as pessoas se comportavam como em algum campeonato do leste europeu.
Eu mesmo, evolui muito naquelas pelejas.
E gostava muito também de ficar estudando os diversos jogos que eram diariamente disputados no Taverna.
Tanto que, em um final de tarde sem ter muito o que fazer, me dirigi ao local para uma boa conversa ou um joguinho despretensioso.
Haviam poucas pessoas lá, nenhuma conhecida, então eu vi dois velhinhos disputando uma partidinha de xadrez, em um surrado tabuleiro.
Fui até eles e fiquei observando.
Minutos se passaram e os dois continuaram atentos ao jogo, erguendo a sobrancelha de vez em quando, enrugando a testa e olhos fixos no tabuleiro, mas sem mexer peça alguma.
Nesse ínterim, eu também atento já tinha planejado diversas jogadas e algumas defesas caso fossem mexidas determinadas peças (tinha um cavalo que poderia trazer problemas a um dos oponentes).
Mais algum tempo se passou e nada de peça mexida.
Comecei a imaginar a veracidade da expressão citada no começo do texto, com provas irrefutáveis do quão complicado é, de fato, o jogo de xadrez.
E nada de movimentos naquele tabuleiro.
Napoleão ao conquistar metade da Europa, talvez tenha gasto menos tempo na sua estratégia.
Mas, os dois não descolavam os olhos da mesa.
Até que um deles, de maneira ríspida, levanta a cabeça, quebra o silêncio e pergunta indignado ao outro:
- "Como é que é, carioca, você não vai jogar não?"
E o oponente, mais indignado ainda:
- "Ué, não é a sua vez?"
Não aguentei!
Fui embora com a ligeira impressão que eles fizeram aquilo, de propósito...

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