quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Fatalidade

Ambrósio era de fato um sujeito sistemático.
Vivia sozinho nos fundões de um vale escarpado. Por opção própria tinha escolhido aquela vida de quase eremita.
Mas, era extremamente feliz, vivendo longe da insegurança de uma grande cidade e dos olhares maldosos de uma pequena vila.
Cultivava as terras pedregosas do local, com a sabedoria adquirida dos seus antecessores, por isso tinha uma vida, até certo ponto, bem tranquila.
Gostava da sua casa bem arrumada, das tralhas de trabalho bem dispostas na parede do celeiro e dos animais bem tratados.
Nem parecia que morava só e que recebia poucas visitas.
Gostava de Maria Rita, uma viúva também dona de um pequeno sítio nos arredores, só que na parte alta da Serra do Rola Macaco.
Como a vizinha também o olhava com carinho, sempre que podia, ia fazer uma visita respeitosa a ela.
Nunca ia quando ela estava só, só passando pelo local quando os filhos estavam presentes.
Filhos que, por sinal, admiravam e gostavam muito do "seu" Ambrósio.
Num desses domingos frescos de outono, ele resolveu passar parte do dia com a família da vizinha.
Saiu de casa logo cedo e subiu a serra a pé, por um caminho menos perigoso, mas mais longo.
Passou parte do dia com eles, perdendo a noção do tempo.
Ao verificar que já estva tarde, resolveu ir embora, escolhendo um caminho mais curto, que teria que atravessar o vale por uma ponte de madeira, bem precária.
A vizinha preocupada o alertou que com o excesso de tábuas podres, a ponte não aguentava mais do que uma pessoa por vez.
Então, era necessário certificar-se que não haveriam outras pessoas atravessando junto com o senhor Ambrósio.
Despedidas feitas, ele pôs-se a caminhar em direção ao local.
Ao observar atentamente o céu, percebeu que poderia acontecer a ocorrência de chuva no caminho.
Por prevenção, ele voltou à casa da viúva e pediu emprestado um guarda-chuva.
Ao receber o mesmo, voltou mais apressado ainda para o caminho e, ao atravessar a ponte, ela ruiu e seu Ambrósio rolou ribanceira abaixo, para nunca mais ser visto.
Moral da história: "um homem prevenido, vale por dois".

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