quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Celsão e a Kombi

Nesse carnaval, dei uma passadinha em Itaúnas, um vilarejo localizado no norte do Espírito Santo, na divisa com o estado da Bahia.
Lugar paradisíaco, que conta com dunas, lindas praias, riachos ótimos para banhos e uma agitação noturna que agrada a todos, com bons forrós.
Tem também uma população agradável, sempre disposta a dois dedinhos de prosa.
No caminho para o Riacho Doce, encontra-se a Pousada do Celsão.
Figuraça, esse cara!
Já chega no carro, descrevendo a qualidade do almoço do local, feito pela Mara, onde o tempero é a nossa fome...
Vale a pena dar uma parada e conferir a grande variedade e fartura da refeição, com peixe, carne de boi, linguiçinha, carneiro guisado, pescoço de peru, entre outras iguarias, onde o tempero não é só a fome, mas a simpatia e a magia do Celsão e das suas histórias.
Uma delas, que me foi contada, relata a epopeia com o seu primeiro carro.
Diz ele, que há uns trinta anos atrás, quando ainda morava em Belo Horizonte, juntou dinheiro e conseguiu comprar uma Kombi, novinha, para tentar iniciar um empreendimento próprio no setor de entregas locais.
Depois de tirar o carro na concessionária, parou em uma padaria para tomar um cafezinho e mostrar a sua nova aquisição aos amigos.
Nisso chegam duas pessoas, que começam a perguntar aos presentes quem era o dono da Kombi. O nosso amigo se identifica e, surpreso, recebe uma proposta para levar uma carga até Cuiabá, no estado de Mato Grosso, naquele mesmo dia.
Desinteressado, ele agradece a oportunidade e nega o carreto.
Mas, com a insitência dos dois estranhos e, principalmente, pela alta quantia oferecida ao nosso bom mineiro, pelo transporte (quase um terço do valor do veículo), não houve como não ceder ao apelo dos dois interlocutores.
O Celsão aceita e vai até um barracão na periferia da cidade e fica esperando uma turma encher a Kombi, com várias caixas de papelão, bem lacradas e sem identificação da mercadoria.
Com o carro cheio, sozinho, ele vai para o distante estado, prometendo entregar a mercadoria no menor tempo possível.
Com um grande medo, mas dependente daquele valor que lhe foi pago, sabia que estava se arriscando em demasia.
Chega dentro do prazo no estado do Centro-oeste e faz a entrega sem saber o que tinha transportado.
Mas, por sorte, acabara de fazer o primeiro serviço com o seu carro novo.
Antes de procurar um hotel para dormir, já que precisava retornar para Minas com muita rapidez, parou em uma padaria para tomar um cafezinho.
Novamente, dois homens se aproximaram e começaram a examinar a Kombi.
Desconfiado, pois estava em uma cidade desconhecida, o Celsão vai até eles, questionando o motivo de tanta curiosidade em relação ao carro.
Os dois ao identificarem o nosso amigo como dono do veículo, fazem uma proposta para comprá-lo, em dinheiro, por um valor que representava quase o dobro do que ele havia pago.
Sem entender muito aquele repentino interesse e, ainda com a cabeça incomodada pela dúvida total do que ele havia transportado até Cuiabá, ele não pensa duas vezes e vende o carro aos dois estranhos.
Os três se dirigem até uma agência do Banco Real e finalizam o negócio, com o depósito do valor combinado, e em dinheiro, na conta dele.
Imediatamente, o Celsão se desloca até o aeroporto e consegue um voo para Brasília e, mais tarde, outro para Belo horizonte.
Ainda sem acreditar no que tinha lhe acontecido, conta a epopeia a uma plateia estupefata, composta de parentes e amigos.
E diante de todos, fez uma promessa: que nunca mais iria comprar outra Kombi.
Hoje, tem uma camionete que, segundo ele, "só faz entrega de gente", de Itaúnas para a sua pousada.
E também dos ingredientes e do tempero do bom almoço da Mara...

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