quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Furto na galeria

Cidade pequena, do interior do estado de São Paulo, mas com uma economia agroexportadora, o que fazia circular um volume razoável de dinheiro por aquelas paragens.
Idalécio, um professor formado na capital, com pós doutorado na França, em artes plásticas, resolve abrir uma filial da sua famosa galeria, naquela pequena cidade.
Além de ser "filho da terra", ele viu uma perspectiva de bons ganhos, através de vendas de quadros para os emergentes fazendeiros da região.
Montou o negócio em um dos sobrados mais tradicionais do centro da cidadezinha.
Trouxe bons quadros, mesclando as tradicionais paisagens e naturezas mortas, com algo mais contemporâneo, mas de fácil aceitação pelas tradicionais famílias da região.
Ao se dirigir à prefeitura para retirar o alvará de funcionamento, notou a imensa alegria do prefeito, ao receber o projeto.
É claro, que ele traria um ganho cultural imensurável ao município, principalmente por ser Idalécio, um dos mais respeitados marchands da capital.
Mas, ele percebeu que havia algo a mais.
Não era só pelo crescimento da cultura dos munícipes, que deixava o nosso nobre alcaide mais excitado.
O motivo maior é que a sua esposa, tinha aprendido a pintar e, segundo o seu professor, apresentava estilo e técnica únicos, só lhe faltando um lugar adequado para que as suas telas pudessem ser apreciadas e bem comercializadas (já não haviam mais parentes, financiadores de campanha e asseclas para vender a incipiente produção da primeira dama).
Após a aprovação do projeto o prefeito praticamente convenceu Idalécio a montar uma pequena exposição com a parte mais expressiva da obra de sua esposa.
O nobre empresário aceitou a proposta e quase voltou atrás ao ver o que seria exposto.
Mas, como estava bem distante da capital e seria apenas por alguns dias, resolveu agradar o expressivo político local.
Para a inauguração trouxe algumas obras expressivas da sua galeria matriz e convidou meia dúzia de amigos artistas para também engrossarem a exposição.
Vendeu-se muita coisa, o jornal da cidade fez uma bela menção às obras vindas da capital, inclusive aquelas produzidas pelo proprietário da galeria, mas nenhuma tela da primeira dama tinha sido sequer sondada, para a venda.
Muitos até discutiram o seu valor artístico.
Muito chateada a esposa do prefeito cobrou dele uma atitude, que mostrasse ao ignorante povo daquela região, o quanto importante e valorizada eram aqueles quadros (da sua esposa, é claro).
Então, ele paga uma matéria em um grande jornal da capital, destacando a abertura na cidade de tão importante espaço e do valor do acervo que estava ali exposto, sem exceções.
Isso, é claro, atraiu a atenção de alguns larápios, que vivem do furto e comercialização desse tipo de produto.
E seria fácil levar o valioso acervo, já que o local nem de longe, contava com a segurança das grandes pinacotecas do estado.
Tanto que, dois dias depois de publicada a matéria, aconteceu um grande roubo na galeria.
Notícia imediata na mídia da capital, muita comoção pela perda, mas o prefeito viu um lado positivo naquilo: valorizaria sobremaneira a arte da sua mulher.
Rescaldo feito, tinham sido levados todos os quadros (que já não eram muitos).
Mas, três dias depois a quadrilha foi presa ao tentar vender a terceiros o fruto da ação.
A polícia capturou os mentores e reenviou para a cidade o acervo da galeria, do jeitinho que os larápios tinham surrupiado.
Mas, para equilibrar a imensa alegria da população e do marchand, em reaver o precioso acervo, veio a tristeza do prefeio em verificar que as telas da sua esposa serviram para embrulhar as obras mais conhecidas, como um bom e velho papel pardo.
É, não se fazem nem mais ladrões como antigamente...

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