terça-feira, 20 de julho de 2010

Professora

Eu já trabalho no mesmo colégio há mais de quinze anos e, nesse tempo, tive o prazer de conhecer pessoas bem interessantes.
Uma delas foi a Conceição, uma professora de português muito simpática e alegre.
Nos fazia rir das sua histórias e do seu jeito meio avoado.
Sempre chegava no limite do tempo e, algumas vezes, com os alunos já dentro de sala, após o sinal de entrada.
Mas, teve um dia que ela chegou no colégio e só estava presente o porteiro, "não havia chegado ninguém ainda", segundo as suas palavras!
Ficou feliz em estar tão adiantada, mas ao ser indagada pelo funcionário sobre o que fazia lá, percebeu que era... sábado!
Nunca acertava a ordem das salas e vivia me perguntando onde ela deveria entrar.
Como, óbvio, eu também não sabia, sempre eu recebia um sorriso e um "p..., como você é desinformado, cara!".
Sempre procurava desesperada os seus óculos, que sempre estavam no alto da sua cabeça.
Mais de uma vez eu a vi, tirando um cigarro do maço, para acender, mesmo já tendo outro na boca.
Num desse lapsos, chegou a pedir fogo para outro professor, com um recém aceso no canto da boca...
Apesar desse jeito meio atrapalhado, não me lembro dela ter esquecido nenhum verso de Quintana, Pessoa ou Bandeira.
Nem sequer trocar uma data ou fato relevante de literatura.
Mas, a última coisa que me lembro dela, foi no dia que me procurou no cursinho que tínhamos, no centro de Guarulhos, para me falar sobre uma vasinho de violetas, que recebemos do colégio, no dia dos professores.
Ela me disse, toda feliz, que conversava com as plantinhas e que algumas retribuíam toda a boa energia que recebiam dela.
Na sua sala tinha umas dez violetinhas que recebera de alunos e amigos e que cotidianamente as regava e ficava contando histórias para as plantinhas.
E que, de todos os vasinhos, a única que não perdia ou murchava as suas folhinhas, nem a florzinha roxa, era aquela que tinha sido presentada pelo nosso colégio.
Eu ouvi emocionado o relato da Conceição e nunca tive a coragem de dizer a ela, que aquele vasinho que a escola tinha nos dado, possuía uma plantinha de plástico...
E, por sinal, deve estar, ainda hoje, com a mesma florzinha feliz, por ouvir tantas histórias e confidências...

Nenhum comentário:

Postar um comentário