quinta-feira, 22 de julho de 2010

Criação

É impressionante como somos um reflexo da nossa criação!
Desde pequeno, fui criado em uma casa de fundos, com pouca ventilação e visitada por alguns indesejáveis roedores.
Eu me divertia ao ver a minha mãe em pé, sobre uma cadeira, gritando para que o meu pai pudesse dar fim, geralmente com uma vassoura, em algum camundongo que insistia em compartilhar da nossa convivência.
Eu ficava de canto, fingindo valentia e torcendo muito para que o bichinho não viesse em minha direção.
Jamais eu poderia mostrar fraqueza, correndo ou subindo em uma cadeira, pois quem fazia isso era a minha mãe...
Mãe, inclusive, que trabalhava em dois períodos e ainda estudava à noite!
Mas, não pensem que ela era ausente, não.
Mesmo quando não estava em casa, nós sentíamos a sua presença.
Quando eu ainda era bebê, as poucas horas que ela passava em casa, no final de semana, era comigo ao seu lado.
Até hoje, ela me conta emocionada, que muitas vezes ficava comigo no seu colo e, ao mesmo tempo, estudava para o seu curso de pós-graduação, lendo em voz alta as suas anotações de aula.
Eu prestava muita atenção e balançava a cabeça afirmativamente, como se entendesse algo, pois imaginava que ela estava contando historinhas para mim.
A minha primeira surra também foi fruto de uma tentativa de mostrar-me independente para ela.
Antes dela ir para a escola, sempre pedia que eu me arrumasse para que pudesse ser levado para a casa da minha avó, onde eu ficava o dia todo, até que o meu pai passasse lá, no começo da noite para me levar de volta para casa.
Era uma rotina e um caminho que eu já conhecia.
Então, no alto dos meus quatro anos, resolvi após me arrumar, sair sozinho e ir desacompanhado até a casa da vovó (não ficou parecido com historinha da carochinha), que ficava distante uns cinco quarteirões da minha casa.
Ao me ver chegando sozinho na cozinha dela, a mãe da minha mãe achou que eu havia sido deixado no portão, como em alguns dias que ela se encontrava mais atrasada, por isso nem se preocupou em vê-la.
Já a minha mãe ao não me ver em casa, sentadinho esperando-a, como de costume, se desesperou.
Na década de setenta, não tínhamos telefone, então ela saiu deseperada a minha procura, só se acalmando ao me ver brincando no alpendre, junto ao meu avô.
Nem a presença dele, a impediu de me dar umas palmadas (leves, como se fossem de alívio).
Com essa figura presente, aprendi a ter responsabilidade, não mentir, respeitar os mais velhos e a lutar pelas coisas que eu acredito.
Junto com o meu pai, também me ensinou a valorizar a honestidade e o ser humano (nunca conheci pessoas que amassem tanto a convivência com outras pessoas, como eles).
Tudo bem que a minha condição humana me fez escorregar muitas vezes, mas até hoje, mesmo há quilômetros de distância, a presença deles se mantém viva no meu cotidiano.

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