terça-feira, 20 de julho de 2010

Consultoria jurídica

O Lourival tinha acabado de se formar em direito, em uma faculdade particular, lá na minha cidade.
Depois de várias reprovações no "exame da ordem", conseguiu se dar bem em um deles e teve concedido o direito de colocar plaquinha de advogado na frente da casa da sogra (ele morava nos fundos da residência).
Não passou muito tempo para aparecer o primeiro cliente.
Era um fazendeiro além-fronteira, bem sisudo e de poucas palavras.
Tinha "umas terras" em Itaú de Minas, outras em Cássia e mais algumas em Formiga e estava tendo problemas com um grupo de invasores do MST.
Então, ele precisava de uma consultoria jurídica e também de um advogado que pudesse resolver algumas pendências nesse processo de desocupação, que ainda seria feita, de uma de suas propriedades.
Como eram terras devolutas, griladas pelo seu avô, sabia que a desocupação não seria fácil.
Combinou com o Lourival uma pequena quantia mensal e disse que o chamaria assim que fosse necessário, na medida que os problemas fossem surgindo.
Meses se passaram, o pagamento caindo pontualmente na sua conta corrente e nenhuma notícia do fazendeiro mineiro.
Era estranho, pois o Lourival sabia que a reintegração de posse desse tipo de pendenga era muito problemático.
Até que um dia o nosso caríssimo advogado se cansou de esperar e resolveu contactar o seu cliente.
Ligou para o telefone de contato e perguntou meio sem jeito, se estava tudo bem, se os seus serviços não estavam sendo necessários, admitindo estranhar a calmaria de tão problemática situação.
Do outro lado da linha ouviu a voz pausada e rouca do seu cliente, o fazendeiro:
- "Ara! Não se preocupe não, doutor! Por enquanto nós não estamos precisando dos seus serviços, não! Porque a gente tá resolvendo tudo na bala, mesmo..."

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