terça-feira, 20 de julho de 2010

Mutirão

Logo que eu cheguei em São Paulo, fui fazer faculdade em Guarulhos e conheci algumas pessoas que considero como amigas até hoje.
Uma delas é o Jura.
O cara é o típico paulistano da zona leste, amigo de todos, falante e de família grande.
Logo que fizemos amizade, fui convidado para participar de uma das experiências mais ricas que um ser humano pode imaginar: um mutirão.
Como sou do interior, sempre tive na cabeça os mutirões realizados na roça, feitos para ajudar algum capiau que não tinha tido tempo de concluir o serviço de capina, plantio ou colheita.
A lida começava bem cedinho, transcorria com a ajuda de dezenas de vizinhos e parentes, eram entoados vários cânticos de treição (o nome que se dava a esse trabalho coletivo na minha região) e tudo acabava em um almoço farto e com muita música de viola.
Mesmo com parentes meus participando de alguns mutirões, lá no interior, eu mesmo nunca tinha visto um, na área urbana.
Por isso, aceitei de imediato o convite.
Ainda mais porque o trabalho ia ser no litoral, em Mongaguá, aqui na Baixada Santista.
O Jura passou na minha casa no final da madrugada (me lembro que eu tinha chegado de um festa umas duas horas antes) e seguimos para o imóvel fruto dessa preciosa experiência.
No caminho ele explicou que a tarefa seria simples, pois teríamos que ajudar o pessoal a "encher a laje da casa".
Putz, o meu avô era pedreiro e eu sabia o quanto era trabalhoso aquela atividade, mas como ia ser um mutirão (várias pessoas), achei que daria conta tranquilamente do trabalho.
Chegamos um pouco atrasados, com o Sol já alto, pois eu pedi que fizéssemos uma parada para um café da manhã em Santos (tinha um padaria muito legal no Gonzaga).
O pai do Jura já deu uma dura nele, logo de cara!
Quando eu fui verificar o teor do trabalho, percebi que só tinham três pessoas lá.
Já fiquei preocupado, mas tudo bem pois eu tenho quase um metro e noventa de altura e, na época, pesava quase cem quilos (hoje peso um pouco mais), então poderia dar conta do recado.
Mas, ao colocaram sobre o meu ombro uma lata de dezoito litros cheia de concreto, quase arriei.
Caramba, eu nunca tinha carregado nada tão pesado antes, na minha vida
Derrubei tudo em cima do irmão do meu amigo, que só não me bateu pois foi impedido pelo pai.
Como não me dei bem na tarefa de carregar o concreto, fui deslocado para subir na laje e esparramá-lo pelo local.
Deram-me uma enxada, muito pequena e com um cabo já podre.
Não deu outra, pois em duas esparramadas, eu já tinha derrubado mais concreto no chão, do que sobre os tijolos e vigas.
E, na terceira enxadada, o cabo se partiu e a ferramenta foi atirada a metros de distância, mas a poucos centímetros do carro do proprietário do imóvel.
Ao tentar descer, para pegá-la, acabei pisando em um local que não deveria e derrubei uma fileira inteira de tijolos que estavam esperando uma camada de concreto.
Fui convidado gentilmente a deixar o meu posto e ir para a praia.
Fiquei sozinho lá, por um tempo e, quando voltei, o trabalho já havia se findado e o churrasco que tinham me prometido, já acabara.
Comi um sanduba na padaria de Agenor de Campos e voltei de ônibus para São Paulo, pois o pessoal ficou para fazer o contrapiso, no outro dia.
E engraçado, nem me convidaram para ficar...

Nenhum comentário:

Postar um comentário