quinta-feira, 15 de abril de 2010

Moldura

Eu sou do tempo do filme de máquina fotográfica.
Inclusive fui um dos últimos na cidade a abandonar definitivamente a máquina analógica (aquela que precisava comprar filme e depois revelá-lo).
Confesso que também não me adaptei muito com as digitais, mas mesmo assim tenho uma para clicar alguns momentos básicos, como reuniões em família e OVNI's.
Mas, tenho que admitir que era um grande barato ter que clicar algo e só ver o resultado final após a revelação.
Eu demorava muito mais para focalizar, para chegar a um enquadramento perfeito ou então para usar todas as benesses de uma boa luminosidade.
De fato, não era legal "perder fotos", algo comum quando não tínhamos a paciência ou as técnicas necessárias para um resultado satisfatório.
Pior ainda era quando buscávamos as revelações nas "fotóticas da vida" (acho que isso nem existe mais) e a mocinha nos mostrava alguma foto mal enquadrada ou com aquele indefectível dedo, na frente da paisagem.
Isso só não era pior do que o fotógrafo colocar o seu retrato 3X4 na vitrine, ao lado de dezenas de outras pessoas com feições sérias, parecendo um grande quadro de "procura-se"...
Mas, havia também o outro lado, que era quando tirávamos fotos perfeitas e ao receber elogios das atendentes, saíamos andando feito um Sebastião Salgado.
Em uma dessas vezes, captei umas imagens tão interessantes, feitas com filtro na lente da minha Canon, que mereciam uma ampliação 20x30, daquelas que serviriam de presente para amigos e parentes próximos.
Escolhi três fotos e pedi para ver algumas molduras que melhor valorizariam as imagens.
Haviam várias opções, mostradas por uma balconista de olhos negros e muito linda que, por sinal, havia se encantado com a minha sensibilidade ao captar tais instantâneos.
Gostei de um porta retratos feito com um sanduíche de vidros, com quatro parafusos prateados, bem discretos.
Para fazer uma pequena graça para a atendente e mostrar que além da minha sensibilidade fotográfica, eu também tinha um bom senso de humor, fui logo comentando:
- "Gostei desse daqui, mas só espero que não venha com o retrato dessa mocinha feia e vesguinha, aqui da foto."
A moça, toda sem graça, foi logo retirando a imagem que estava no porta retratos e antes de me passar a mercadoria, me responde:
- " Eu disse para o meu pai que eu não sou fotogênica mesmo. Mas, mesmo assim ele insistiu em colocar a minha foto da época que eu estudava no colegial..."
Engoli seco, desculpei-me, tentei consertar a indelicadeza, mas fui embora com a certeza que a minha sensibilidade durava apenas o instante de um clic.

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