terça-feira, 20 de abril de 2010

Megassena

Sempre tive na família pessoas que gostam de apostar em alguma forma de jogo.
Felizmente, nada compulsivo, como aquelas velhinhas que frequentam o submundo dos bingos clandestinos ou os fanáticos pelo colorido iluminado dos caça níqueis, que ainda estão espalhados pela periferia da grande São Paulo.
Lembro-me bem do meu avô paterno, que sempre fazia os seus joguinhos na loteria esportiva e na loto.
Chegava a suar frio quando começava acertando algum número na sua conferência (não me lembro dele ter acertado mais do que dois números em nenhum jogo).
Essa sua mania (ou seria vício) passou para o seu filho do meio, no caso, o meu pai.
Sempre que pode, ele faz os seus joguinhos (prefere a megassena), usando a mesma combinação de números, que retirou das datas de nascimento dele, da minha mãe e da minha tia.
Impreterivelmente, três jogos de seis números.
Diz que quer acertar junto com outros apostadores para que nunca saibam quem acertou o conjunto de números. Gosta do anonimato para essas coisas.
Um dia desses, inclusive, teria acertado uma quina e duas quadras, se não se esquecesse de jogar (quase chorou de raiva).
Todo domingo, ele sai com o cachorrinho da família para comprar o jornal da cidade e conferir o resultado do sorteio do dia anterior (faz isso, mesmo quando não joga).
É uma rotina interessante.
Num desses domingos em que eu o visitava, acordei muito cedo e entrei no computador para ler algumas mensagens.
Ao abrir a página do site, vi que havia um único acertador da megassena acumulada, justamente da cidade de São Paulo.
Anotei os números que foram sorteados, em um pedaço de papel, e esperei o meu pai chegar com o jornal.
Ao entrar na cozinha, fui até ele e mostrei o papel que eu havia copiado da tela do computador, dizendo que eu os havia jogado, mas tinha deixado o bilhete no bolso do meu avental de professor.
Ele achou interessante a minha iniciativa, já que eu nunca jogo ou aposto em nada que envolva dinheiro ou outros bens.
Brincou até que a minha sorte de principiante poderia trazer algum acerto.
Quando ele começou a conferir os números, acreditando que eu havia jogado, de fato, arregalou os olhos e começou a tremer (o jornal balançava como se estivesse em uma manhã de muito vento).
Olhou para mim e com uma voz embargada, me perguntou se era verdade mesmo.
Óbvio que temendo o pior, eu disse que era uma brincadeira, pois eu já sabia a sequência sorteada.
Até hoje eu não sei se a expressão dele, após aquele momento foi de decepção ou de alívio!
Mas, o que eu tenho certeza, é que ele nunca mais vai acreditar em mim, nem quando eu tiver que revelar que fui o único acertador da megassena acumulada da semana passada...

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