quarta-feira, 23 de junho de 2010

Por um "piu"

Uma família pode ser composta por muitos irmãos que, mesmo criados de maneira idêntica, crescem com personalidades e características totalmente distintas.
Naquela casa, não podia ser diferente.
Após cinco anos sendo o centro de todas as atenções, o garotinho teve que aceitar a ideia de dividi-las com a irmãzinha recém-chegada.
Foi uma relação inicial de muita curiosidade, mas depois de algum tempo e tendo a certeza que não mais seria o único a receber brinquedos, doces e carinho, começou a ter o difícil sentimento do ciúme.
Tanto que, no primeiro aniversário dela, a mãe teve que espalhar brinquedos pelas duas camas, cantar parabéns para os dois (a pequeninha não estava nem aí, até curtia tudo) e fingir que também comemorava alguma coisa para o primogênito.
Os parentes até tinham se acostumado com os ataques de choro e birra, quando a irmãzinha recebia mais atenção do que ele.
Mas, independente disso, os dois cresceram muito amigos, brincando sempre unidos, aprontando muito e sofrendo as consequências, também juntos, das suas travessuras.
As brigas eram comuns, mas foram diminuindo com o tempo.
Até que, surge uma nova criaturinha.
Quatro anos mais nova que a irmãzinha, que seria ainda mais mimada e protegida do que os outros dois.
Bonitinha, tranquila, calma e muito meiga.
Todos se encantavam com ela, inclusive os seus dois irmãozinhos maiores.
Com a família morando em uma casa bem pequena, de apenas dois quartos, construída nos fundos do terreno da sogra, se fez necessário comprar uma beliche para acomodar os dois irmãos maiores em um dos quartos, que antes era ocupado apenas pelo mais velho e o berço que estava no quarto dos pais passou a ser da caçulinha.
É claro que, essa obrigação de dividir quase o mesmo pequeno espaço, fez surgirem novas rusgas entre os dois mais velhos.
Brigava-se por quase tudo, mas principalmente pelas preferências distintas, em relação à iluminação do quarto.
O maior, que dormia na parte de cima e tinha a lâmpada bem no seu rosto, queria o quarto apagado.
A do meio, que tinha uma pequena penumbra proporcionada pela presença da cama de cima e tinha muito medo de escuro (dizia que o ambiente totalmente apagado lhe dava "falta de ar"), preferia a lâmpada acesa.
E a caçulinha no quarto dos pais, reclamava que não conseguia dormir devido aquela bagunça dos outros dois.
Chegava a ser engraçado, pois o mais velho descia do beliche e apagava a luz. A irmãzinha esperava ele subir e ia até o interruptor e acendia-a.
O outro descia, apagava novamente e ameaçava a irmã.
Ela esperava um pouco e com ele já na cama de cima, acendia de novo.
E assim a noite avançava, só acabando quando algum dos dois cedia.
Mas, em um desses dias de impasse, sem nenhum deles ceder, começou uma grande bagunça. O pai já cansado resolve intervir.
Vai até o quarto, chama de maneira ríspida a atenção de ambos, e decreta:
- "Se eu ouvir mais um pio nesse quarto, os dois vão dormir quentes (é fácil entender o que é dormir quente)..."
Quando tudo levava a crer que a paz estaria reestabelecida naquele local, ele vira as costas e, antes de sair do quarto, escuta:
- "Piu..."
Gargalhada geral, uma boa surra e a caçulinha, no outro cômodo, de alma lavada pelo corretivo aplicado.
E assim, ficavam ainda mais unidos os três irmãos...

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