quarta-feira, 23 de junho de 2010

A birra

A minha irmãzinha do meio era uma figurinha carimbada (antigo isso, não)!
Era uma criança muito inteligente, engraçada e geniosa.
Falava de tudo, desde a mais tenra idade.
Tinha uma perspicácia incomum à outras, da mesma faixa etária.
Como na rua só tinham meninos, ela me azucrinava, ao querer brincar conosco.
Muitas vezes tínhamos que despistá-la para conseguirmos jogar bola sossegados ou então pegar lebistes nos córregos do nosso bairro.
Desde pequenininha adorava dar escândalos, principalmente quando a sua vontade era contrariada.
Não podia entrar no ônibus da Cometa para São Paulo (onde moravam os nossos avós) que já, aos berros, pedia para o motorista abrir a porta.
Os outros passageiros só a ouviam gritar:
- "Abre, abre, abreeeeee..."
Para aquietá-la o meu pai precisava pedir para que ela ficasse abaixando quando o veículo passava embaixo de alguma ponte para que não batesse a cabeça.
Outro drama era quando a nossa mãe tinha que levá-la para cortar o cabelo.
Tanto que, em um desses ataques coléricos da pequena, foi prometido que o seu cabelo nunca mais seria cortado (durante um bom tempo, a cabeleireira só aparava as pontinhas).
Sempre que alguém saía de casa, ela queria ir junto.
Amava passear (ama até hoje)...
E muitas vezes sobrava para a minha tia, o fardo de levá-la.
Tanto que, num desses dias de tempo carregado, a irmã da minha mãe tentou sair de casa sem ser notada.
Mas, para "variar um pouquinho", foi descoberta pela minha irmãzinha.
Com toda a paciência do mundo, ela explicou para a sobrinha que não daria para levá-la, já que estava com pressa e iria caminhar muito, até um bairro distante.
Depois de muito papo, a tia percebeu que a menina não cederia, então a levou consigo.
Não deu metade do caminho e a pequenininha, já cansada começou a pedir:
- "Me carrega! Me carrega! Me carrega..."
A tia, impaciente, respondia:
- "Não vou te levar no colo, não! Eu disse que era longe e te falei para não vir!"
Diante das negativas, a sobrinha não pensou duas vezes. Começou um escândalo digno de uma novela mexicana e, após vários quarteirões gritando e chamando a atenção de todos na rua, a tia para e resolve acabar com aquela cena:
- "Tá bom! Então vem no meu colo!"
Mas, a pequenininha dá dois passinhos para trás e sentencia, apontando o dedinho:
- "De jeito nenhum! A senhora vai ter que voltar e me carregar do lugar que eu pedi da primeira vez. Lá atrás!"
Nem precisa dizer que ela teve que continuar caminhando, mas dessa vez puxada pelo bracinho.
E quem poderia imaginar que, hoje, é a mais tranquila dos três irmãos...

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