domingo, 29 de agosto de 2010

Circo

Desde pequeno, eu sempre fiquei impressionado com os espetáculos circenses.
Na minha cidade, apareciam desde aqueles famosos, com nomes pomposos e dezenas de atrações internacionais (com nomes pomposos, também) até mesmo os mais chinfrins, com lonas costuradas e artistas que se revezavam em vários números e na assistência do palco (em alguns o pipoqueiro era o malabarista, o porteiro fazia um dos palhaços, a faxineira era assistente de palco e assim ia seguindo o espetáculo).
Um dos que eu mais lembro, nessa linha mambembe, de poucos recursos, era o Circo Aritana.
Não existia nada mais brasileiro e improvisado que o Circo Aritana...
Tinha meia dúzia de artistas, alguns funcionários entediados e equipamento apodrecendo e enferrujando.
Para se ter uma noção da qualidade do espetáculo, a principal atração eram as duplas caipiras que se apresentavam no final do mesmo (todas eram contratadas na região).
Mas, era interessante ver a gama de atrações desse circo.
Haviam três palhaços, que faziam as pessoas rirem mais por dó, do que por talento.
O mágico tinha uma assitente que mal cabia na mesa para ser serrada.
Trapézio, não havia, pois a lona e a estrutura do circo, não aguentariam muitas manobras.
O globo da morte tinha duas motos barulhentas que não conseguiam subir muito além da sua metade.
Haviam cinco malabaristas, que equilibravam tudo o que lhes passava pelas mãos (até algumas panelas de fundo escuro, típicas de fogão à lenha).
Apesar de tudo, vale um crédito positivo ao "Gran Circo Aritana", pois eles não possuíam números com animais.
O que era incomum naquela época, pois todas as companhias circenses famosas tinham um grande plantel de bichos adestrados e infelizes.
Como hoje, o circo moderno não conta mais com esses números, fiquei surpreso ao ver na televisão, uma denúncia de uma Ong que protege animais, contra uma pequena trupe que tinha alguns deles.
A repórter, indignada, entrevistava o dono do local, acompanhada dos representantes da associação que protegia a vida selvagem:
- "O senhor não acha um absurdo ter tantos animais em condições tão degradantes?"
E o dono do circo:
- Minha senhora, todos eles tem carinho, são bem alimentados e gostam de se apresentar..."
A jornalista insistia:
- "Mas têm animais que nem conseguem ser adestrados direito. O que faz essa grande quantidade de cabras, lá atrás. Que número elas conseguiriam fazer?"
E o senhor, sem pestanejar, deixa a mocinha atônita:
- "Ah, as cabras não se apresentam, não! Elas servem apenas para alimentar os leões!"
Pois é, fiquei pensando, os bichanos devem gostar de tomar um bom leitinho...

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