quarta-feira, 13 de junho de 2012

Hino nacional

Em muitas escolas públicas, há a obrigatoriedade de se cantar o hino nacional pelo menos uma vez por semana. Quando a turma é de adultos, sempre há reclamações por parte dos alunos dessa prática.
Dia desses, a professora estava indo em direção ao pátio com uma turma de supletivo para cumprir a obrigação semanal e ouve de um dos alunos (justamente o mais velho deles) que aquilo era herança da ditadura e que ele não concordava em ser obrigado a mostrar o seu amor pela pátria daquela maneira.
A professora, como de costume, muito compreensiva e calma, diz para ele que também é obrigada a cantar toda semana, no local onde trabalhava e não estava reclamando.
O jovem senhor acha engraçada a colocação e pergunta, com a maior inocência do mundo, em que lugar ela também era obrigada a soltar a voz com os versos parnasianos de então?
- "Ora bolas, espanta-se ela, aqui na escola..."
Ahhhhh...

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Seu Dedé

Dias destes, conversei com uma amiga minha que não via há muito tempo e matamos um pouco a saudade, na padaria perto de casa.
Entre uma vitamina de abacate e alguns mini croissants, me lembrei de seu Dedé, tio da referida amiga, um fanático por futebol e por tudo que fale sobre ele, na televisão (inclusive não perde nenhuma da indefectíveis mesas redondas, principalmente a da Gazeta). Depois de receber boas notícias sobre a saúde dele, ela me disse que o tinha visto muito bravo, na noite anterior. Relatou que no intervalo do seu programa favorito das seis da tarde (não, não é o do Datena, não, é o Gazeta Esportiva), ele viu que o Ronnie Von iria entrevistar o Marcos Assunção.
Ficou feliz, pois palmeirense roxo, desde a época da academia, gostava da sinceridade e do carisma do ídolo do seu time. Chamava-o, inclusive, de "salvador da pátria", elogiando muito as suas cobranças de falta, que livravam muitas vezes a agremiação alvi-verde de algumas derrotas. Por isso, naquela noite, fez uma exceção à rotina televisiva e, ao invés de assistir A Grande Família, viu o programa do antigo ídolo da Jovem Guarda. Torceu o nariz algumas vezes, com algumas entrevistas, destilou a sua intolerância contra o apresentador, que se intitula "mãe de gravata", mas aguentou bem firme até a metade do mesmo, quando ele anunciou a participação do cantor Marcos Assunção.
Seu Dedé não entendeu bem, mas aguentou firme em frente à TV, pois poderia ser uma brincadeira e o craque iria soltar a voz com algum sucesso de pagode ou sertanejo (talvez até aquela do Teló) e depois do intervalo comercial quase teve uma síncope ao ver entrar na tela um loiro de barba e cabelos compridos, quando foi anunciado o nome do Assunção.
Só depois de algum tempo é que ele percebeu que havia um homônimo (no caso, Assumpção), menos famoso para o público esportivo, mas que se revelou um excelente cantor, mesmo que para o seu Dedé o que não saísse da garganta do Roberto Carlos, não valia a pena ser ouvido.
Muito bravo, chamou a sobrinha de lado e resmungou, que só faltava aquele cara que iria falar sobre o pensamento do Sócrates em um programa de domingo à noite, na TV Cultura, não soubesse muita coisa da vida do "doutor" (o grande maestro corintiano da década de 80, falecido há pouco). 
Provavelmente vai ter outra decepção ao assistir o Café Filosófico...

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Espectador

O Edniz é um especialista em cantaria na cidade de Mariana, nas Gerais, e como aluno do grande mestre Juca (que nos dá muita saudade da sua ausência) estava concluindo um trabalho de restauração de um chafariz localizado na parte central da cidade de Ouro Preto.
Como ele prefere fazer o restauro no próprio local, como forma de conscientizar a população (que é quem mais destrói) da importância da preservação do valioso patrimônio, sempre tem ao seu redor uma pequena multidão de curiosos e admiradores, principalmente porque a arte que ele executa é extremamente delicada e vigorosa, já que trabalha com pedras de dureza mais elevada que as tradicionais, como o quartzito e o granito.
Em um dos dias que tinha começado mais cedo o trabalho, parou ao seu lado um senhor com chapéu e guarda-chuva a tiracolo e ficou observando ele tirar lascas pequenas da pedra, com todo cuidado, pois uma marretada mais forte poderia colocar a perder todo o trabalho do mês.
O velhinho apurava a visão depois de cada golpe e tentava enxergar o que estava sendo esculpido.
Perguntava algumas coisas e recebia respostas imediatas, que aos poucos iam acabando com a paciência do Edniz.
E sempre observava que "faltava força para o escultor", pois ele só "conseguia tirar algumas lasquinhas por vez".
Nem adiantava ficar explicando muita coisa, não, pois o que o artista mais queria era que o observador fosse logo embora.
E o tempo foi passando e nada dele sair...
Até que, já sem paciência e com a concentração muito baixa, o escultor deu uma martelada mais forte na ferramenta e tirou um pedaço enorme da peça, destruindo praticamente todo o trabalho.
Irritadíssimo, ele olhou para o exigente observador, com cara de pouquíssimos amigos.
Sem pestanejar o senhorzinho voltou à sua posição ereta e sentenciou:
- "Agora sim! Finalmente dessa vez, você conseguiu tirar um pedação. Tava faltando força mesmo..."

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Joguinho

No colégio onde trabalhei havia no pátio, muitas mesas de pebolim (ou totó, como chamam os cariocas).
É a diversão dos alunos.
Muitos, inclusive, ao ouvir o sinal do final da aula que antecede o intervalo, saem correndo, alvoroçados, pelo corredor para conseguir um bom lugar na fila do mesmo.
Como são poucas mesas e muitos alunos, gasta-se boa parte do recreio para conseguir participar de uma mísera partidinha com os amigos.
E, é tão impotante conseguir um bom parceiro, que o prêmio para os vencedores da peleja é continuar na mesa, até ser derrotados por alguém ou ser retirado por algum dos inspetores do colégio.
Como a turma dos pequenininhos estava abusando do direito de descer rapidamente as escadas para conseguir um bom lugar para as partidas, acabou sendo repreendida pela Odete, a coordenadora de disciplina do colégio (isso mesmo, coordenadora de disciplina), que teve que entrar em uma das salas que mais abusava da correria para dar uma bronca geral.
Pediu licença ao professor de história e foi direta ao assunto.
Que era um absurdo tal comportamento de alunos daquela idade, que mais pareciam criancinhas do maternal e blá, blá, blá...
Até que, para finalizar o seu discurso, sentenciou sem dó nem piedade dos pequenininhos:
- E, de agora em diante, como castigo, vocês estão proibidos de brincar com o "pingolim"...
Já pensou se algum deles não percebeu que ela confundiu os nomes?
Vai atrapalhar o seu desenvolvimento natural...

domingo, 19 de junho de 2011

História de peixeiro

Eu sempre me orgulhei de conhecer um bom peixe. Inclusive, achava que sabia diferenciar as principais espécies marinhas.
Mas fui testado, de maneira cruel, dias desses, por uma antiga amiga, que nasceu e cresceu convivendo com pescadores e com peixes, é claro, na Praia da Baleia, lá prás bandas do Mundaú, no Ceará.
Discutíamos quem conhecia mais sobre peixes, durante o almoço e ela me propôs um desafio: ir até o Mucuripe, bairro de Fortaleza, eternizado pelo Fagner, nas banquinhas de venda de peixes e comprar uma cavala inteira (para os leigos, um tipo de pescado bem comum lá no Nordeste).
Topei na hora, pois era um dos meus preferidos em uma peixada, com a sua carne tenra e saborosa.
Seria moleza...
Fomos até as bancas móveis localizadas na frente das jangadas, que trabalham com um produto fresquíssimo.
Paramos do lado da barraca do Antônio Simão, um vendedor que já tinha sido pescador do ex-marido desta minha amiga, que era bem conhecida no local.
Mas, ela escolheu justo um vendedor que não a conhecia e para deixar a situação ainda mais interessante, ela ficou uns três passos atrás de mim.
Cheguei cheio de razão e pedi ao peixeiro uma cavala bem fresquinha.
Ele tirou um belo exemplar do gelo e me mostrou.
Analisei bem o pescado, examinei as guelras, os olhos e a solidez da carne para certificar-me que, de fato, era bem fresquinho e pedi para pesar que eu iria levar...
Nisto, aproxima-se esta minha amiga e tasca, sem cerimônias:
- Este peixe não é uma cavala!
Eu e o peixeiro ficamos indignados, como assim, não era uma cavala!?
Ela complementa:
- É um serra (pequena nota: um peixe semelhante mas com um valor comercial bem menor, pois não tem o mesmo sabor daquele que eu estava comprando).
Antes do clima esquentar e iniciar um bate boca, o vendedor do lado, o Antônio Simão, que já foi pescador do ex-marido da minha amiga, interveio e sentenciou:
- Fulano de Tal, essa mulher aí, foi criada na praia, conhece mais peixe que todo mundo daqui...
O peixeiro deu uma recuada, olhou mais uma vez para o peixe disse que, de fato, estava enganado, já que havia se confundido e pegado o produto errado no fundo do isopor.
Com certeza o que eu quase havia comprado como cavala era um serra.
Só não parti para cima do cidadão em questão porque ele estava com uma afiada faca de limpar peixe (e também porque eu não brigo com ninguém, é claro).
E o pior é que eu sabia diferenciar os dois peixes, mas os danados lixam o serra na areia para esconder uma listra amarela que é evidente na sua lateral.
Aprendi mais uma e transmito essa lição a todos os amigos para que nunca comprem gato por lebre ou serra por cavala...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Dez do Um de Onze



Isabela.
Isa, bela!
Isa linda.
Bela Isa.
Linda Isa.
Bela linda.
Linda, Bela.
Isa ou Bela?
Tanto faz!
Só importa ela...

terça-feira, 12 de abril de 2011

Motorista do interior

Quem já morou ou já dirigiu automóveis no interior do nosso estado, sabe que a direção empregada é bem diferente daquela aqui da capital.
Como o trânsito aqui flui de maneira mais agressiva, com muito mais carros do que em qualquer outra cidade do Brasil, acaba gerando um acordo tácito entre a maioria dos motoristas.
Por incrível que pareça o uso da seta é mais comum aqui do que em outros lugares, existem motoristas que cedem um pouco do espaço que poderia ser ocupado pelo seu carro para que o outro condutor consiga sair de uma vaga de rua ou da garagem, etc.
No interior não tem isso não!
Muitos nem se lembram de ligar a seta, odeiam diminuir a velocidade para outros passarem (inclusive para pedestres) e acham que possuir um carro, os diferencia daqueles que andam pelas calçadas.
Por isso, quando ando a pé pela minha cidade, redobro a atenção, ao atravessar ruas e avenidas.
Aqui, na metrópole, também me cuido, mas sei que muitos vão me permitir atravessar a rua entre o seu carro e o da frente, sem acelerar de maneira ruidosa.
Tanto que, ao vir com o meu pai para cá, fui atravessar um rua movimentada de Guarulhos entre dois carros (o de trás diminuiu para que pudesse passar).
Vi que o meu pai titubeou e não quis fazer o mesmo.
Brinquei com ele, depois de esperar algum tempo para chegar na outra calçada:
- "Poxa, pai, pode ficar tranquilo, porque os motoristas de São Paulo diminuem um pouco para que os pedestres possam atravessar. Da próxima vez, pode confiar!!!!"
E ele:
- "Eu não! E se o motorista, justo daquele carro, for do interior?"
Pois é, depois desta constatação, eu também nunca mais confiei...